segunda-feira, 30 de abril de 2012

A problemática das armadilhas ilegais

Jovem lobo macho recolhido pelo Núcleo de Protecção Ambiental da GNR, concelho de Montalegre. 

Neste caso muito recente (22 de Abril) o desfecho foi positivo e este animal foi recolhido para posterior recuperação. Infelizmente em muito maior número serão os casos em que os caçadores furtivos capturam com sucesso javalis e outras espécies de forma ilegal, infligindo horas de absoluta agonia aos animais. Os laços são armadilhas ilegais não selectivas, maioritariamente direccionadas a javalis, mas que podem capturar lobos, corços e outras espécie de fauna silvestre, constituindo um importante factor de mortalidade de fauna. São arames ou cabos de aço montados estrategicamente em locais de passagem de animais, que ao passarem ficam presos nos mesmos. Na luta para escapar, activam o nó de correr, acabando por aumentar a pressão exercida  pelo arame e impedindo progressivamente a sua libertação.

Na execução do projecto já localizámos 2 armadilhas deste tipo montadas e uma já desactivada. Em zonas como a Beira Raiana, onde se registam altas densidades de javali, é expectável a ocorrência de elevadas quantidades de armadilhas do género que podem constituir uma fortíssima barreira à recuperação de um núcleo lupino já por si muito precário.

Se encontrar um "laço" montado ou desactivado ou um animal silvestre capturado desta forma denuncie e contacte - SOS Ambiente e Território - TEL: 808200520.

A dispersão e o mito das largadas de lobos II




Como já foi referido num post anterior, o mito das largadas de lobos realizadas por "ambientalistas" encontra-se profundamente enraizado no actual meio rural português, sobretudo nas regiões com presença estável de lobo e nas áreas em início de processo de recolonização da espécie. Neste último caso, os populares não conseguem explicar o retorno repentino de lobos a uma zona onde "já não se viam há mais de 50 anos!". Consideramos que esta desinformação deve ser combatida a todo o custo e como tal plenamente merecedora de um segundo post. 
O mapa apresentado (http://www.volkovi.si/revela um exemplo extremo de dispersão de um jovem lobo macho esloveno equipado com colar GPS que, tendo percorrido mais de 800Km, partiu do seu país de origem, cruzou a Áustria e chegou a Itália, onde se encontra actualmente (os últimos dados apontam para a sua possível fixação e associação a uma fêmea). Este tipo de deslocações de grande amplitude podem explicar o regresso inesperado de lobos a uma região onde já não eram vistos há muito, confundindo os populares e motivando explicações variadas assentes no desconhecimento da biologia e ecologia da espécie.
Como o Slavc, lobos dispersantes portugueses ou espanhóis que abandonem a sua alcateia natal em busca de novos territórios para se estabelecer e reproduzir, podem ser a chave para a recuperação da Beira Raiana enquanto região lobeira. Para que estes fenómenos ocorram, é fundamental a existência de corredores ecológicos de qualidade que potenciem a conectividade desta região com núcleos lupinos mais estáveis.

Cães, Pastores e Lobos



Tivemos o prazer de assistir no Sabugal à exposição cujo cartaz anexámos a este post e gostaríamos de partilhar algumas notas sobre o cão de gado, a pastorícia e como esta cultura foi moldada pela presença de grandes predadores como o lobo.
No nosso país é possível encontrar um vasto património, material e imaterial, relacionado com o lobo - fojos, lendas, folclore, entre outros - no entanto, para além destes testemunhos históricos, existe um legado vivo, fruto da relação ancestral do predador com o Homem: o cão de gado.
Portugal, sendo um país de dimensões reduzidas, possui um número invejável de cães de gado: 4 raças  reconhecidas pelo Clube Português de Canicultura - Cão da Serra da Estrela, Cão de Castro Laboreiro, Cão de Gado Transmontano e Rafeiro do Alentejo - todas seleccionadas pela sua aptidão na defesa dos rebanhos. A presença do lobo contribuiu decisivamente para o aparecimento destas raças e moldou o dia-a-dia dos pastores, enriquecendo de forma única a cultura ligada à pastorícia. O imaginário que todos nós partilhamos, e alguns ainda têm o privilégio de assistir, o pastor a guardar o seu rebanho com cães imponentes, ostentando grandes coleiras de puas, só é possível dentro de uma paisagem cultural partilhada com o lobo. Conservar o lobo é também preservar a cultura ancestral da pastorícia.
Para mais informações acerca dos cães de gado e do projecto desenvolvido pelo Grupo Lobo na doação de cães a pastores consulte este link.